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08 - Parece que estamos na Idade Média!

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  Unknown - Codex Græcus Matritensis Ioannis Skyllitzes , or Madrid Sylitzes (BNE MSS Graecus Vitr. 26-2 Fol. 140v, Biblioteca Nacional de España, completed in Sicily between c. 1100 and c. 1200). Um comentário sobre os usos do passado É comum, no dia a dia, em conversas informais, artigos da mídia em geral, ou comentários de internet, ouvirmos expressões como a que dá título a este artigo. A tendência de buscar no passado as causas para as coisas que acontecem hoje em dia parece ser uma constante na sociedade ocidental. Isso nos diz muito sobre o papel da História, ainda que como um negativo de uma fotografia realizada com uma câmera analógica. Em primeiro lugar, o ato de comparar a sua realidade com a de outras épocas e lugares, parece ser próprio do que é humano. Quem nunca disse, diante de um evento que o deixa estarrecido, expressões como “parece que voltamos à Idade Média”, “parece que voltamos a 1964”, ou “parece o Holo(ca)usto”? Ou o leitor nunca disse o ingênuo “isso é...

Algumas reflexões sobre o 31 de março de 1964

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Tanques em meio a populares próximo a Avenida Getúlio Vargas no dia 2 de abril de 1964. Foto: Arquivo Nacional / Correio da Manhã. Disponível em: https://memoriasdaditadura.org.br/fotografia/tanques-em-meio-a-populares-proximo-a-avenida-getulio-vargas-no-dia-2-de-abril-de-1964/. Acesso em 31/03/2024.   Enquanto escrevo estas palavras, o hoje é amanhã. Isso quer dizer que entre o momento da escrita deste texto e a sua publicação, há o lapso temporal de um dia. Enfim, após essa estranha introdução, pretendo apresentar aqui as percepções que tenho a respeito da Ditadura Militar. Hoje faz 60 anos do trágico fato histórico da Ditadura Civil Militar. Acho que a minha primeira recordação consciente desse evento ocorreu lá pelos idos de 2004 ou 2005, quando estava concluindo o Ensino Médio. Naquela época, não havia dúvidas de que tivemos uma Ditadura, encabeçada pelos militares do Brasil (com valioso apoio civil, é claro). Era algo dado. Mesmo imaginar um grupo crescente de pessoas as ...

07 – A verdade sobre a “verdadeira história”

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 Ou a verdade sobre o que o seu professor nunca te contou Francisco de Goya. Murió la verdad. Disponível em https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Muri%C3%B3_la_verdad.jpg. Acesso em 27 de julho de 2023. Há um fascínio, o mais das vezes, criado — ou amplificado — pelos veículos de mídia, com a ideia da “verdadeira história” de um assunto ou pessoa. Qual a raiz desse efeito duradouro nas pessoas? É mesmo possível alcançar a “verdadeira história” de algo? Quais os problemas dessa ideia? Talvez a maior característica do ser humano seja a necessidade de contar e de ouvir histórias. Contudo, não raro, queremos histórias definitivas, pois a velocidade do dia a dia não favorece a criação de narrativas complexas. Logo, para atender a esse anseio humano primário, pululam produções culturais com sugestivos títulos como “a biografia definitiva”, “a história verdadeira”, ou mesmo “O que o seu professor não te contou” sobre algo.

Biografia 01: Hannah Arendt, por Samantha Rose Hill

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  Foto de capa do livro Hannah Arendt, da autora Samantha Rose Hill.   ATENÇÃO : Esta resenha é fruto de uma parceria com a editora Contracorrente. Hannah Arendt foi uma das figuras mais marcantes do século XX. O seu pensamento — e sua vida — vem sendo analisado, criticado e reapropriado por diferentes grupos sociais e políticos. Sim, o que foi dito até agora poderia ser encarado como lugares-comuns, e mesmo assim não deixam de ser verdade. Só não acrescenta muito ao propósito do texto. Pois bem, a escritora Samantha Rose Hill escreveu uma biografia da eminente filósofa Hannah Arendt. Todavia, o objetivo aqui nesta página não é o de fazer um resumo da vida dessa grande pensadora. Espero conseguir, ainda que brevemente, contextualizar a vida, a obra e os tempos sombrios em que Arendt viveu.

Aparte 02 - História contrafactual, imaginação e a existência humana

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Estátua da Liberdade com a o braço erguido a 120º, em alusão ao cumprimento nazista Sieg Heil. A estátua está envolvida em bandeira vermelha com o símbolo da Águia Nazista. Extraída da série O Homem do Castelo Alto, produzida pelo Amazon Prime Video. Disponível em: https://www.themoviedb.org/t/p/original/4LDLRGIF9SnZqjAjlD8wqh5hHaF.jpg. Acesso em 21 de maio de 2023. No campo da História não há espaço para o "se", dado que o passado não pode ser modificado. Isto no entanto, não impede a mente humana de conjecturar o como poderia ter sido caso o desenrolar de um acontecimento histórico houvesse sido diferente. Por exemplo, se a Alemanha tivesse saído vencedora da II Guerra Mundial, possivelmente 80% da população do planeta Terra teria sido exterminada. Sobrariam uns poucos grupos a serem utilizados enquanto mão de obra escrava. Diante disso, mesmo na perspectiva da preservação da existência humana, não há qualquer justificativa para a defesa da atuação alemã na II Guerra Mundia...

06 - O nacional-socialismo na literatura e na psicologia: um breve estudo de caso

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  É um dado curioso o fato de que a literatura, as artes e a filosofia, não raro parecem pressentir acontecimentos trágicos do futuro próximo. Nesse sentido, o surgimento do nacional-socialismo, vulgo nazismo, ocupa um lugar especial. Podemos perceber isso nas obras de vários escritores, filósofos e até psicólogos. Aqui tentarei falar um pouco sobre “O lobo da estepe”, de Hermann Hesse, e o ensaio “Wotan”, de Carl Gustav Jung. Esses dois autores / pensadores conseguiram captar o chamado “espírito do tempo” (ou zeitgeist, em alemão). Antes de falar sobre as obras propriamente ditas desses intelectuais, cabem algumas palavras de contextualização acerca dessas pessoas e o meio em que viviam. O escritor Hermann Hesse nasceu na Alemanha e logo cedo na vida se refugiou na Suíça. É perceptível em seus escritos, especialmente em O lobo da estepe, que o autor defendia o pacifismo, ou seja, o autor era contra a guerra, em especial, após acompanhar o desenrolar da I Guerra Mundial. Carl J...

Aparte 01 - Sobre o neonazismo e o significado dos símbolos

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Foto: manifestação de cunho neonazista em Santa Catarina. Manifestantes com mão erguida em alusão ao Sieg Heil, cumprimento nazista. Os manifestantes se apresentam envoltos pela bandeira do Brasil e cantam o Hino Nacional do Brasil. A última coisa que alguém, cujo objeto de estudo é o Holocausto e o Nazismo espera é ver símbolos como esse em nossos dias atuais. A saudação é o famoso Sieg Heil. Apesar de disfarçada sob a bandeira e hino nacional brasileiros, toda a estética alude ao movimento nazista. Símbolos e gestos não são apenas símbolos e gestos. A famosa cruz ansada ou suástica não significam nada em si mesmas, mas representam uma ideia, um ideal político e social. Assim como os slogans, jingles musicais ou ideias propagadas. Cabe ressaltar que a Carta Magna brasileira proíbe qualquer tipo de apologia (ou defesa) do nazismo. Merece atenção, ainda, que o movimento promovido por esse grupo desrespeita a legislação brasileira ao clamar por ruptura institucional. De um modo que se ap...