Algumas reflexões sobre o 31 de março de 1964

Tanques em meio a populares próximo a Avenida Getúlio Vargas no dia 2 de abril de 1964. Foto: Arquivo Nacional / Correio da Manhã. Disponível em: https://memoriasdaditadura.org.br/fotografia/tanques-em-meio-a-populares-proximo-a-avenida-getulio-vargas-no-dia-2-de-abril-de-1964/. Acesso em 31/03/2024.

 
Enquanto escrevo estas palavras, o hoje é amanhã. Isso quer dizer que entre o momento da escrita deste texto e a sua publicação, há o lapso temporal de um dia. Enfim, após essa estranha introdução, pretendo apresentar aqui as percepções que tenho a respeito da Ditadura Militar.

Hoje faz 60 anos do trágico fato histórico da Ditadura Civil Militar. Acho que a minha primeira recordação consciente desse evento ocorreu lá pelos idos de 2004 ou 2005, quando estava concluindo o Ensino Médio.

Naquela época, não havia dúvidas de que tivemos uma Ditadura, encabeçada pelos militares do Brasil (com valioso apoio civil, é claro). Era algo dado. Mesmo imaginar um grupo crescente de pessoas as quais defenderiam não ter ocorrido uma ditadura militar, ou pior, que se ocorreu, “só quem fazia coisa errada” sofreu durante o regime, parecia impossível. A própria tese de que ocorreu anula a de quem fazia coisas erradas, ou o inverso da argumentação, atenta contra a lógica. Bom, não sabia eu que alguns anos depois, tudo isso mudaria.

No meu período escolar, poucas pessoas tinham acesso a informação atualizada sobre esses eventos históricos. Para ser sincero, o acontecimento que me parecia, de algum modo, mais fresco em minha mente, era o Holocausto Nazista. Afinal, já naquela época, havia muitos filmes e materiais sobre o Holocausto. Além disso, ninguém questionava quanto a ser o nazismo um movimento de extrema-direita. Mas isso é outra história.

Quanto à Ditadura, porém, pouca coisa chegava até mim. Ainda assim, eu não conhecia uma pessoa sequer que defendia o regime. Mesmo no âmbito da política, e dos políticos profissionais, não consigo me recordar de pessoas defendendo uma memória positiva do regime (sim, é claro, havia as chamadas “viúvas da ditadura”, mas isso era tão raro que não chegava ao meu círculo de convivência).

Confesso que não me recordo de quando começou a crescer a ideologia de que não houve ditadura, e sim, uma “revolução”. Aliás, creio que a primeira vez que ouvi esse absurdo foi por volta de 2012 ou 2013, na época da Comissão Nacional da Verdade (CNV).

Acho, no entanto, que esse movimento negacionista começou a crescer em 2015 ou em 2016, quando houve outra ruptura forçada no país. E um dos votos claramente homenageavam um torturador condenado, o então recém-falecido Coronel do Exército, o senhor Carlos Alberto Brilhante Ustra. Enfim, isso também é assunto para outra conversa.

A pergunta que me cabe fazer é: “Como, apesar de tanta informação disponível atualmente, com provas testemunhais, evidências físicas, documentação até mesmo de outros países, registrando um dos capítulos mais obscuros da história do Brasil, haja quem defenda o Golpe de 1964?”

A resposta, entretanto, é a de que as pessoas escolhem, consciente, ou inconscientemente, em que acreditar. Ah, sim, é preciso lembrar que tem havido muita desinformação, e que isso se articulou embasado num discurso negacionista – que busca reescrever a História, ocultando fatos, promovendo mentiras e meias-verdades –, com intenções políticas, no mínimo, questionáveis.

O paradoxo dessa reflexão é o de que, apesar da abundância de informação confiável disponível, jamais se viu tanto crescimento de ideologias negacionistas. E aqui sou obrigado a evocar a Historia magistra vitae: lembrar, para que nunca se esqueça, para que jamais se repita.



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