02 - O que é fonte histórica?
![]() |
Carta da sacerdotisa Luenna a Ensi de Lagash, aprox. 2499 a. C. Museu do Louvre. Disponível em https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d5/Letter_Luenna_Louvre_AO4238.jpg. Acesso em 29 de maio de 2020.
por Samir Calaça
Fonte? O que é fonte? A primeira coisa que talvez lhe venha
à mente seja uma fonte de água. Fontes desse tipo existem em várias cidades do
mundo como peças decorativas. Mas é possível que imagine um poço artesiano de
onde se extrai água. O engraçado é que, por coincidência ou não, essa é uma
palavra com muitos significados.
Para o jornalista, a fonte se refere a dados ou informações
obtidos de uma pessoa. Podem ser consideradas fontes os relatórios, extratos
bancários ou quaisquer documentos que lhe permitam apurar a veracidade de um de
fato. Ao jornalista é assegurado pela Carta Constitucional o sigilo da fonte.
Essa medida protege os informantes de situações que possam ameaçar a sua
segurança e até a do próprio jornalista.
Um policial, por sua vez, encara como fonte (ou informante),
uma pessoa – costumeiramente de alguma forma ligada ao mundo do crime – que lhe
fornece informações importantes a respeito de roubos, assassinatos ou outras
atividades ilegais. Eventualmente, para o investigador policial, isso pode ser
de grande valor para o sucesso de alguma operação de inteligência.
E o historiador? O que ele quer dizer quando fala de fonte histórica?
Para quem escreve a História, a ideia de fontes é sumamente
essencial. Sem a existência delas, não seria possível reconstituir – em maior
ou em menor grau – um evento histórico, isto é, um passado, recente ou
longínquo. E a ausência dessa reconstrução do passado, representaria a
inexistência da História.
Caso não haja fontes, o fazer historiográfico (de grafos,
escrita, e história, ou “escrita da história”) seria impossível. Na verdade,
talvez sequer houvesse humanidade, porque todos nós, de alguma maneira, fazemos
a História, e deixamos pistas de nossa existência.
Mas o que o historiador entende como fonte histórica?
Dizendo em termos simples: fonte histórica é tudo o que é produzido pelo ser
humano (incluindo aquelas fontes de água presentes em cidades ou os poços
artesianos). As fontes históricas podem ser textos escritos, quer se trate de
relatos de viagens, relatórios, diários pessoais, crônicas (tanto em seu
sentido original, que se refere a narrativa de um evento, como o texto
literário vinculado ao cotidiano da época em que o texto foi produzido),
material literário – como poesia, romances, novelas e outros textos mais –
escritos religiosos e filosóficos, textos jornalísticos..., enfim, qualquer
texto escrito, seja em papel, pedra, pergaminhos, ou mesmo meios digitais.
E quadros, fotos, esculturas, afrescos em locais religiosos,
pinturas rupestres e outros não propriamente escritos? E o cinema? Sim, todas
essas coisas podem ser fontes históricas. Mas, e aqueles relatos que uma
testemunha de um evento conta, ou mesmo aquelas histórias que o seu pai ou avô
conta? Os testemunhos orais também são importantes fontes históricas. Na
verdade, até os túmulos podem ser consideradas fontes históricas.
Infelizmente, nem sempre um texto escrito, ou falado, uma
imagem, ou mesmo uma fotografia, podem ser encaradas como totalmente
confiáveis. Às vezes essas fontes mentem – quer deliberadamente, quer não. Mesmo
que não haja falsificação de informações, todos esses documentos apresentam as
perspectivas das pessoas ou grupos que as produziram. O que fazer, então para
encontrar informações bem embasadas?
Tendo em vista que mesmo os documentos “verdadeiros” possuem
limitações, existe uma atividade fundamental para o historiador: a chamada
crítica das fontes. Talvez você ache essa uma expressão estranha, mas esse
termo indica um trabalho meticuloso que é realizado pelo bom historiador para
encontrar a chamada verdade factual.
Esse trabalho de crítica das fontes não é feito somente para
detectar mentiras. Quase sempre, mesmo um fato verdadeiro como “Tiradentes
morreu em 21 de abril de 1792”, ou “Em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel
assinou a Lei Áurea”, pode ser contado e interpretado de diferentes maneiras.
Cada forma de relatar o evento indica a presença de visões distintas acerca
desses eventos.
Diante desses problemas, os historiadores tentam verificar
ao máximo possível uma fonte, compará-la com outras e identificar como
determinados acontecimentos se deram. O objetivo disto é encontrar uma série de
eventos, estabelecer a sequência de como ocorreram, encontrar a interpretação e
a explicação mais plausível acerca de determinado período ou acontecimento
histórico.
As fontes históricas são a base do trabalho realizado pelo
historiador. A crítica delas, sua principal metodologia de análise. O objetivo
final desse profissional é o de ajudar a sociedade a entender não só o passado,
como principalmente o seu presente.
Materiais consultados:
BLOCH, Marc. Apologia da História ou O Ofício de
Historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.
PROST, Antoine. Doze lições sobre a História. São Paulo:
Autêntica, 2019.
SANTOS, Rodrigo Otávio. Fundamentos da pesquisa histórica.
Curitiba: InterSaberes, 2016.
E aí, gostou? Conheça a nossa página no Facebook e no
Blogger.
Comentários
Postar um comentário