01 - O que é História?
GYSIS, Nikolaos. História (1892). Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria#/media/Ficheiro:Nikolaos_Gyzis_-_Historia.jpg. Acesso em 16 de maio de 2020.
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por Samir Calaça
Como as termos Matemática e Geografia, somos acostumados a
ouvir desde sempre a palavra História. Mas as duas primeiras (isto é,
matemática e geografia) não costumam ser ditas por cada pessoa ao menos uma vez
por dia. Por outro lado, história, não. Quase todos os dias falamos essa palavra.
Nós nos referimos à história de alguma coisa que aconteceu
na nossa vida, ou que se deu com um conhecido nosso. Também, quando ouvimos
algo que não acreditamos, que nos irritou ou que achamos engraçado dizemos
“história”, não raro acompanhado de um vocativo como rapaz, moça, mulher, homem
e por aí vai. Mas o que é a História de que tanto ouvimos falar em jornais,
filmes, ou discursos de políticos?
O primeiro que podemos dizer sobre o assunto é o de que a
História é uma forma de investigação. Esse é o primeiro significado da palavra,
lá no grego clássico. Possivelmente o que nos vem à mente é o ato de investigar
um crime, que pode ter acontecido há pouco ou muito tempo. Nesse sentido, a
história seria a investigação de acontecimentos anteriores ao tempo em que o
historiador realiza a pesquisa. É como se, na data de 16 de maio de 2020, eu
resolvesse investigar algo que aconteceu na Roma Antiga ou na Idade Média.
Talvez você já tenha ouvido falar em História da Filosofia,
ou História da Literatura, da Música ou alguma outra qualquer. O que isso nos
diz sobre a História? Na verdade, tudo tem história. Então, o que é a História
que lemos nos livros didáticos na escola ou em obras de divulgação que se
tornam best sellers e que vendem milhares e milhares de cópias?
Existiu um historiador francês, no século passado, cujo nome
era Marc Bloch. Ele escreveu um livro sobre o conceito de História e o trabalho
do historiador como profissional. Nessa obra, ele disse que a História é um
estudo do homem. Assim, podemos dizer que a história estuda a sociedade humana.
É claro que existem outras ciências que estudam a sociedade. O que faz a História
de especial nisso? Bom, é um pouco difícil definir, já que, como mencionado,
tudo pode ser história. Mas o que a disciplina, ou ciência, que chamamos de História
faz é o seguinte: estuda o homem num determinado tempo, num local específico.
Por exemplo, estudamos o descobrimento do Brasil em 1500, ou
a colonização portuguesa aqui, mas podemos ilustrar, mais especificamente, com a
Revolução Mineira. O que procuramos entender ao fazer isso? Bom, analisamos: 1.
onde ocorreu; 2. as causas que levaram à revolta com Portugal; e 3. os
resultados dessa revolução. As respostas a esses dados, , fica assim: o local
foi em Vila Rica (atual Ouro Preto), na região das Minas Gerais; para entender
as causas, é preciso analisar o período do ciclo do ouro, bem como a sua decadência
nos anos imediatamente anteriores à Inconfidência Mineira; o desenrolar dos
acontecimentos, com a extradição de vários dos revoltosos e a morte trágica de
Tiradentes (Joaquim José da Silva Xavier).
Mas, para termos uma boa compreensão não podemos fazer de
qualquer jeito. Assim, chega a questão do método de estudo. Qual é esse? O chamado
de crítica das fontes. Sobre isso esperamos falar em outro momento, mas podemos
dizer que, ao pegar um documento, não podemos simplesmente ler aquilo como se
fosse exatamente o que aconteceu. É preciso perguntar “Quem escreveu?”, “Quando
escreveu?”, “Onde escreveu?”, ou “O texto é verdadeiro?”, “As coisas
aconteceram realmente desse jeito?”
Talvez você pergunte: “mas por que tem que fazer todas essas
perguntas, não é só contar o que aconteceu?” Infelizmente não. As pessoas às vezes
mentem, não raro confundem um evento do dia anterior com o de outra semana. E às
vezes, as ideias da pessoa que primeiro registrou o relato talvez distorçam a
tal ponto a história contada que não dá para confiar muito nessa narrativa. É
quase como se o texto estivesse num interrogatório policial ou testemunhando
num tribunal. Num processo judicial é preciso ver se essa pessoa não cai em
contradição, ou se ela não está mentindo. Tanto no caso de uma testemunha ou
depoente, como no de um texto, um documento histórico, mesmo que esteja falando
a verdade, isto é, aquilo que viu ou que lhe foi contado da forma mais clara e
exata possível, nenhum relato se fecha em si mesmo, sempre se relaciona com uma
infinidade de outras coisas.
Assim, meu caro, o ofício de historiador não é nada fácil. É
preciso ter cuidado tanto ao ler, como ao escrever sobre o que aconteceu. Caso contrário,
pouco ou nada servirá para a sociedade a quem desejamos falar.
Materiais consultados:
BLOCH, Marc. Apologia da História ou O Ofício de
Historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.
BORGES, Vavy Pacheco. O que é História (Primeiros Passos;
17). São Paulo: Brasiliense, 2005.
FUNARI, Pedro Paulo de Abreu; SILVA, Glaydson José. Teoria da
História (Tudo é História; 153). São Paulo: Brasiliense, 2008.
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